
Curtir fotos é traição? A verdade sobre os novos dilemas dos casais
Afinal, o que realmente configura traição em um relacionamento? A resposta pode parecer simples à primeira vista, mas a verdade é que ela varia de casal para casal — e de pessoa para pessoa.
Vamos imaginar uma cena: você está tendo um ótimo dia ao lado do seu parceiro(a), e, de repente, algo acontece. Você descobre que ele(a) assiste pornografia secretamente, mantém contato com um(a) ex ou, pior ainda, tem um aplicativo de namoro instalado no celular. Em segundos, o clima muda drasticamente. Você sente um nó no estômago, o diálogo vira discussão e a noite termina em desconexão emocional.
Esse tipo de situação, embora comum, costuma surgir porque muitos casais evitam falar abertamente sobre fidelidade. Isso acontece porque o tema é desconfortável — e, em muitos casos, até assustador. Além disso, existe a expectativa inconsciente de que o outro “deveria saber” o que nos magoa ou quais são os nossos limites.
No entanto, evitar esse tipo de conversa pode ser um erro. É justamente na falta de clareza que nascem os mal-entendidos e, com eles, a quebra de confiança.
Cada relacionamento tem regras próprias
Hoje, os modelos de relacionamento são diversos: monogamia, monogamia aberta, poliamor, swinging, relacionamentos não monogâmicos éticos, entre outros. E, com essa variedade, definir o que é traição se torna ainda mais desafiador.
Afinal, o que pode ser considerado uma infração grave em um relacionamento monogâmico pode ser algo aceitável — ou até incentivado — em outras dinâmicas.
Por isso, é essencial compreender que a infidelidade existe em um espectro. O que realmente importa é o que vocês dois consideram como sendo um “limite ultrapassado”.
O que é considerado traição nos dias de hoje?
Tradicionalmente, a traição é associada a envolvimento sexual fora da relação. No entanto, os tempos mudaram. Hoje, muitos comportamentos são percebidos como formas de infidelidade, mesmo que não envolvam contato físico.
Por exemplo:
Flertes frequentes em redes sociais;
Trocas de mensagens íntimas com terceiros;
Encontros secretos com ex-parceiros(as);
Manter aplicativos de namoro ativos;
Conversas emocionais profundas com alguém de interesse romântico.
Para algumas pessoas, apenas “curtir” fotos sensuais de terceiros já pode gerar insegurança e ser interpretado como quebra de confiança.
Ou seja, traição não é apenas sobre o que você faz, mas também sobre o que você esconde.
Dica prática: Se você sente necessidade de esconder uma atitude, minimizar o que aconteceu ou não gostaria que seu parceiro(a) visse o que você está fazendo, talvez você já tenha ultrapassado um limite importante.
Como identificar seus próprios limites?
Antes de conversar com seu parceiro(a) sobre o que é aceitável ou não na relação, é fundamental ter clareza sobre os seus próprios valores. Isso evita que você se molde às expectativas do outro e acabe traindo a si mesmo(a).
Aqui estão algumas perguntas para refletir:
Que tipo de relacionamento me faz sentir seguro(a)?
Prefere uma relação monogâmica, aberta ou outra configuração? Seja sincero consigo mesmo.Quais são meus limites inegociáveis?
Pense em atitudes que, para você, são inaceitáveis e comprometem sua confiança.O que considero traição emocional?
Muitas vezes, a dor de uma conexão emocional com outra pessoa é mais intensa do que a de um envolvimento físico.Quais comportamentos físicos me machucariam profundamente?
Reflita sobre o que, para você, constitui invasão do pacto de exclusividade.O que reforça minha confiança no parceiro(a)?
Quais atitudes — presenciais ou digitais — fazem você se sentir seguro(a) e valorizado(a)?Quais são meus valores sobre respeito, lealdade e compromisso?
Ter isso claro ajuda a guiar suas decisões e estabelecer expectativas realistas na relação.
Como conversar sobre fidelidade e limites?
Falar sobre traição ou exclusividade emocional pode ser desconfortável, mas é um dos passos mais importantes para construir uma relação saudável. A conversa deve acontecer com vulnerabilidade, clareza e abertura para escutar.
O momento ideal para esse diálogo é logo no início do relacionamento, ao definir a natureza da conexão. Porém, se isso não aconteceu antes, não há problema: você pode aproveitar oportunidades do cotidiano para levantar o tema — como uma cena de um filme ou uma história de amigos.
Ao conversar, compartilhe seus sentimentos com autenticidade:
Fale sobre o que você valoriza;
Explique por que certos comportamentos te magoam;
Ouça com atenção o ponto de vista do outro, sem julgamentos.
Lembre-se: o objetivo não é controlar, mas alinhar expectativas e construir confiança mútua.
Manter seus princípios é fundamental
Honrar seus valores em um relacionamento não é egoísmo — é autocuidado. É claro que, em qualquer relação, haverá necessidade de diálogo, concessão e adaptação. No entanto, comprometer seus princípios essenciais pode levar à perda da própria identidade emocional.
É importante lembrar que relacionamentos bem-sucedidos não são aqueles que evitam conflitos, mas sim aqueles que sabem conversar sobre o que realmente importa.
Segundo uma pesquisa publicada em 2023 no Journal of Social and Personal Relationships, a traição continua sendo uma das principais causas de rompimento nos relacionamentos. Porém, com conversas sinceras e definição clara de limites, é possível proteger e fortalecer os vínculos.
Considerações finais
Traição não tem uma única definição. Ela depende do contexto, dos valores de cada pessoa e dos acordos estabelecidos em cada relacionamento.
Evitar a conversa sobre fidelidade pode parecer mais fácil no curto prazo, mas a longo prazo, abre espaço para mal-entendidos e feridas emocionais. Por isso, invista no diálogo. Fale sobre o que você sente, pensa e espera. E escute também.
Em última análise, relações saudáveis são construídas com base na transparência, no respeito e na coragem de sermos verdadeiros com nós mesmos — e com quem escolhemos amar.