
As crenças centrais são as bases sobre as quais as pessoas constroem sua visão de mundo, sua identidade e como percebem os outros.
Segundo Aaron Beck, pioneiro da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), essas crenças influenciam diretamente como as pessoas processam informações, respondem a situações estressantes e se relacionam com o ambiente.
Essas crenças, em primeiro lugar, são como “verdades absolutas” que a pessoa internalizou ao longo da vida. Embora possam ser úteis e capacitadoras, crenças centrais negativas ou disfuncionais muitas vezes perpetuam ciclos de sofrimento emocional, comportamentos autossabotadores e uma visão distorcida da realidade.
O Que São Crenças Centrais?
Crenças centrais, de maneira geral, são definições fundamentais que uma pessoa tem sobre si mesma, o mundo e o futuro.
Elas funcionam como lentes através das quais a realidade é interpretada. De acordo com Beck, essas crenças geralmente se dividem em três categorias principais:
- Crenças sobre si mesmo: Exemplo: “Eu sou inadequado” ou “Eu sou competente.”
- Crenças sobre os outros: Exemplo: “As pessoas são confiáveis” ou “Os outros só querem me prejudicar.”
- Crenças sobre o mundo e o futuro: Exemplo: “O mundo é um lugar perigoso” ou “O futuro reserva oportunidades.”
Além disso, essas crenças tendem a ser estruturadas de forma rígida e inflexível, sendo frequentemente formadas a partir de experiências precoces na infância.
Por exemplo, uma criança que cresceu em um ambiente crítico pode desenvolver a crença de que “Eu sou um fracasso” ou “Nunca serei bom o suficiente.”
Exemplos de Crenças Centrais
As crenças centrais podem ser tanto positivas quanto negativas, dependendo das experiências de vida e dos significados atribuídos a elas. Abaixo estão exemplos mais detalhados de crenças centrais:
Crenças Centrais Negativas
- Sobre si mesmo:
- “Eu sou inútil.”
- “Eu sou incapaz de lidar com desafios.”
- “Eu sou indigno de amor.”
- Sobre os outros:
- “As pessoas são perigosas e traiçoeiras.”
- “Ninguém se importa realmente comigo.”
- Sobre o mundo:
- “O mundo é injusto e cruel.”
- “Nada nunca dá certo para mim.”
Crenças Centrais Positivas
Por outro lado, existem crenças centrais que ajudam na construção de uma perspectiva mais saudável:
- Sobre si mesmo:
- “Eu sou resiliente.”
- “Eu sou digno de respeito e amor.”
- Sobre os outros:
- “As pessoas podem ser solidárias e confiáveis.”
- Sobre o mundo:
- “O mundo está cheio de oportunidades.”
Crenças Contraditórias
Ademais, algumas pessoas podem ter crenças centrais que entram em conflito. Por exemplo, alguém pode acreditar que “Eu sou capaz de alcançar meus objetivos” e, ao mesmo tempo, pensar “Eu sempre fracasso no final.”
Essa contradição pode gerar dissonância cognitiva e dificultar a tomada de decisões.
Como as Crenças Centrais Afetam o Comportamento
De acordo com Beck, as crenças centrais disfuncionais criam distorções cognitivas, como generalização excessiva, pensamento catastrófico e personalização. Por exemplo:
- Uma pessoa que acredita ser “indesejável” pode interpretar um simples atraso em uma resposta de texto como rejeição total.
- Alguém que acredita que “o mundo é perigoso” pode evitar situações sociais, mesmo quando não há risco objetivo.
Nesse sentido, é evidente que essas crenças desempenham um papel significativo na forma como as pessoas interagem com o mundo ao seu redor.
Estratégias Para Identificar e Modificar Crenças Centrais
Felizmente, Beck propõe técnicas específicas para ajudar as pessoas a identificar e transformar crenças centrais disfuncionais. Aqui estão algumas abordagens práticas:
Identificação das Crenças Centrais
- Rastrear Pensamentos Automáticos: Muitas vezes, pensamentos automáticos refletem crenças centrais subjacentes. Perguntas como “O que isso significa sobre mim?” podem ajudar a desvendar essas crenças.
- Diário de Pensamentos: Registrar eventos desafiadores e os pensamentos associados pode revelar padrões consistentes.
- Perguntas Socráticas: Usar perguntas abertas para explorar a lógica por trás dos pensamentos. Por exemplo: “Por que você acredita que ninguém gosta de você? Existe alguma evidência contrária?”
Modificação das Crenças Centrais
Após identificar as crenças, é essencial trabalhar para modificá-las:
- Reestruturação Cognitiva: Identificar distorções cognitivas e substituí-las por pensamentos mais realistas e equilibrados.
- Experimentos Comportamentais: Planejar ações para testar a validade de uma crença. Por exemplo, alguém que acredita que “As pessoas sempre me rejeitam” pode ser incentivado a iniciar conversas com estranhos e observar as reações.
- Afirmações Positivas: Praticar a reformulação de crenças negativas em afirmações positivas, como “Eu sou capaz de enfrentar desafios com sucesso.”
Exemplos Práticos na Terapia
Por exemplo, imagine uma paciente chamada Ana que acredita ser “inútil e incompetente.”
Essa crença foi formada porque, quando criança, ela sempre recebia críticas severas por seus erros escolares.
Durante a TCC, a terapeuta de Ana ajudou-a a:
- Explorar a Origem da Crença: Ana percebeu que as críticas de sua infância não eram reflexo de sua capacidade, mas do perfeccionismo de seus pais.
- Testar Novas Perspectivas: Ana foi incentivada a relembrar situações em que teve sucesso, desafiando a ideia de que era inútil.
- Construir Novas Crenças: Com o tempo, Ana começou a internalizar a ideia de que “Eu tenho habilidades e sou capaz de aprender com os erros.”
A Importância de Trabalhar Crenças Centrais
Em resumo, Beck enfatiza que modificar crenças centrais disfuncionais é um processo gradual, mas transformador.
Quando essas crenças são reformuladas, as pessoas experimentam melhorias não apenas em sua saúde mental, mas também em suas relações, produtividade e qualidade de vida.
Assim, podemos concluir que entender, identificar e modificar crenças centrais é um componente fundamental para alcançar uma vida mais equilibrada e satisfatória.