
Meu filho foi diagnosticado com autismo: e agora?
Plano de acolhimento para mães que estão começando essa jornada
Receber o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) do seu filho pode ser um dos momentos mais impactantes da maternidade. Diante da avalanche de sentimentos, dúvidas e informações técnicas, é comum sentir medo, frustração ou até mesmo paralisia emocional.
Por isso, se você está passando por esse momento, este artigo foi feito especialmente para você. Aqui, oferecemos um plano de acolhimento humanizado, baseado em evidências científicas e com orientações práticas. O objetivo é ajudá-la a cuidar do seu filho — e de você mesma — com mais clareza, confiança e esperança.
1. Validar o que você está sentindo é o primeiro passo
Antes de tudo, é fundamental reconhecer e acolher as emoções que surgem com o diagnóstico. É absolutamente normal que você sinta medo, tristeza, negação, culpa ou confusão.
Afinal, o diagnóstico de autismo muitas vezes interrompe sonhos, muda rotinas e coloca a família diante de uma nova realidade. No entanto, saiba que sentir tudo isso não é sinal de fraqueza — é sinal de amor.
Você não precisa entender tudo agora. Pelo contrário, respeitar seu tempo emocional e buscar apoio é o que torna essa caminhada mais leve e possível.
💡 Dica: buscar acompanhamento psicológico para você pode ser tão importante quanto iniciar as terapias para seu filho. Cuidar da sua saúde mental fortalece toda a família.
2. O que significa o diagnóstico de autismo?
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento que impacta principalmente três áreas:
Comunicação verbal e não verbal;
Interação social;
Comportamentos repetitivos e interesses restritos.
Ou seja, o autismo afeta o modo como a criança percebe e se relaciona com o mundo ao seu redor. Contudo, o espectro é muito amplo. Isso significa que cada criança apresenta características únicas, com diferentes níveis de habilidades, dificuldades e necessidades de suporte.
🔎 Nem toda criança com autismo é não verbal. Da mesma forma, nem toda criança verbal terá autonomia total. O diagnóstico não determina o destino — ele apenas orienta o caminho.
Níveis de suporte no autismo
De acordo com o DSM-5, o TEA é classificado em três níveis:
Nível 1: Requer suporte leve;
Nível 2: Requer suporte substancial;
Nível 3: Requer suporte muito substancial.
Essa classificação é importante, pois ajuda a definir o tipo e a intensidade das intervenções. No entanto, é essencial lembrar que essa definição pode mudar com o tempo, dependendo da evolução da criança.
3. Por onde começar? A importância da intervenção precoce
Neste momento, a dúvida mais comum das mães é: o que fazer agora?
A resposta da ciência é clara: quanto mais cedo começarem as intervenções, maiores as chances de desenvolvimento da criança. Isso porque, nos primeiros anos de vida, o cérebro está em um período de intensa plasticidade, ou seja, mais receptivo a estímulos e aprendizagens.
Dessa forma, a intervenção precoce se torna uma ferramenta fundamental para o progresso.
Profissionais que compõem a equipe multidisciplinar:
Psicólogo (com formação em ABA – Análise do Comportamento Aplicada):
Trabalha o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e adaptativas, além de ajudar a reduzir comportamentos disfuncionais. A ABA é uma das abordagens com maior respaldo científico no tratamento do autismo.Fonoaudiólogo:
Atua no estímulo da linguagem verbal e não verbal, além de trabalhar aspectos como compreensão, comunicação funcional e seletividade alimentar, quando presente.Terapeuta Ocupacional (TO):
Trabalha habilidades motoras, integração sensorial, organização corporal e atividades da vida diária, como vestir-se, alimentar-se, usar o banheiro, entre outras.Neuropediatra ou Psiquiatra Infantil:
É o profissional responsável pelo acompanhamento médico. Ele pode prescrever exames, medicamentos (quando necessários) e ajustar condutas conforme o desenvolvimento da criança.
💡 Vale lembrar que cada caso é único. Por isso, o plano terapêutico deve ser individualizado e adaptado às necessidades da criança e da família.
Frequência e duração do tratamento
De maneira geral, os estudos recomendam entre 10 a 40 horas semanais de intervenção intensiva, especialmente até os 6 anos de idade.
Contudo, isso não significa que todas essas horas devem acontecer em clínicas. Parte desse tempo pode ser aproveitada em casa, com orientação dos profissionais e participação ativa da família.
Além disso, é fundamental respeitar os limites da criança e evitar sobrecargas, tanto para ela quanto para você.
4. Você não está sozinha: rede de apoio é essencial
Durante esse processo, muitas mães sentem que estão carregando o mundo sozinhas. No entanto, você não precisa — e nem deve — enfrentar isso sozinha.
A construção de uma rede de apoio pode incluir:
Familiares que participam ativamente da rotina;
Grupos de pais e mães com filhos autistas (presenciais ou online);
Instituições de apoio, ONGs e clínicas especializadas;
A escola, que deve ser parceira no processo de inclusão.
Além disso, é essencial que você cuide da sua saúde mental. Afinal, quando a mãe está emocionalmente fortalecida, ela consegue tomar melhores decisões e oferecer um suporte mais seguro ao filho.
5. Há esperança — e ela cresce com cada conquista
Mesmo que o diagnóstico venha acompanhado de termos como “nível 3”, “não verbal” ou “necessidade de muito suporte”, isso não significa que não haverá evolução.
Pelo contrário, muitas crianças com autismo desenvolvem habilidades incríveis ao longo do tempo, desde que recebam os estímulos adequados.
Pesquisas apontam que a intervenção precoce e intensiva pode gerar avanços significativos em comunicação, comportamento, socialização e autonomia.
📘 Estudos como os de Lovaas (1987) e do Early Start Denver Model (Rogers & Dawson) reforçam que até 50% das crianças pequenas que passam por intervenção estruturada apresentam progresso substancial.
Portanto, cada pequeno avanço é uma grande vitória. E cada vitória abre novas possibilidades para o futuro.
Conclusão: você está começando uma nova fase — e não está sozinha
Embora o início seja desafiador, essa jornada também pode ser transformadora. Com amor, informação, acolhimento e persistência, você e seu filho vão construir um caminho possível — e cheio de significado.
Confie no processo, permita-se aprender e lembre-se de que você está fazendo o seu melhor.
💬 “Seu filho não precisa ser igual a ninguém. Ele precisa ser quem ele é — com o apoio de quem acredita nele todos os dias: você.”