Transtorno de apego: como a falta de afeto na infância afeta os relacionamentos na vida adulta
O transtorno de apego é uma condição psicológica que afeta profundamente a forma como a pessoa se relaciona com os outros. Geralmente, ele tem origem na infância, especialmente quando há falhas ou rupturas significativas na relação com figuras de cuidado. Essas experiências impactam a forma como a pessoa percebe a si mesma, os outros e os vínculos emocionais.
Compreender essa condição é essencial para buscar ajuda e melhorar a qualidade de vida. A psicoterapia desempenha um papel fundamental nesse processo, oferecendo ferramentas para ressignificar experiências e desenvolver relacionamentos mais saudáveis.
O que é transtorno de apego?
O transtorno de apego é caracterizado por dificuldades persistentes em estabelecer e manter relacionamentos saudáveis, confiáveis e seguros. Ele costuma se desenvolver quando, na primeira infância, a criança não recebeu cuidados consistentes, afeto ou atenção adequada.
De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), existem dois principais tipos relacionados à infância:
Transtorno de Apego Reativo (TAR) – A criança evita interações sociais e demonstra pouco ou nenhum apego aos cuidadores.
Transtorno de Envolvimento Social Desinibido (TESD) – A criança é excessivamente sociável e não demonstra seletividade na escolha de figuras de apego, muitas vezes interagindo com estranhos de forma inapropriada.
Na vida adulta, essas manifestações podem se traduzir em padrões disfuncionais de relacionamento, como medo extremo de abandono ou dificuldade de confiar nos outros.
Causas do transtorno de apego
O transtorno de apego não surge do nada. Ele está ligado a experiências precoces de negligência ou instabilidade emocional. Entre as principais causas, podemos citar:
Abandono ou perda precoce dos pais/cuidadores.
Negligência física e emocional.
Abuso físico, sexual ou psicológico na infância.
Ambiente familiar instável, com trocas constantes de cuidadores.
Separações prolongadas sem o suporte adequado.
Essas vivências afetam a forma como o cérebro da criança desenvolve conexões relacionadas à confiança, segurança e empatia.
Sintomas e sinais do transtorno de apego
Embora os sintomas variem conforme a idade, alguns sinais comuns podem indicar a presença desse transtorno:
Dificuldade em confiar nos outros.
Medo excessivo de rejeição ou abandono.
Baixa autoestima e insegurança afetiva.
Necessidade intensa de aprovação.
Relacionamentos instáveis e conflituosos.
Comportamento excessivamente fechado ou, ao contrário, extremamente dependente.
Em crianças, pode haver atraso no desenvolvimento emocional, dificuldades escolares e comportamentos agressivos ou retraídos.
Impactos na vida adulta
O transtorno de apego pode influenciar negativamente relacionamentos amorosos, amizades e até o ambiente de trabalho. É comum que a pessoa:
Escolha parceiros abusivos ou indisponíveis emocionalmente.
Tenha medo de se envolver, evitando intimidade.
Seja controladora ou excessivamente submissa.
Tenha crises de ansiedade diante de qualquer sinal de afastamento.
Esses padrões, quando não tratados, perpetuam ciclos de frustração e solidão.
Como a psicoterapia pode ajudar no transtorno de apego
A psicoterapia é a principal forma de tratamento, pois atua na raiz do problema: a forma como a pessoa percebe e vive os relacionamentos.
Entre as abordagens mais utilizadas, estão:
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
Trabalha crenças disfuncionais e padrões de pensamento negativos.
Ensina estratégias para lidar com a ansiedade e melhorar a comunicação.
Terapia Focada no Apego
Explora experiências precoces e ajuda a criar novos modelos de relação.
Promove um vínculo terapêutico seguro, que serve como base para relações mais saudáveis fora da terapia.
Terapia de Casal ou Familiar
Indicado quando os padrões de apego afetam diretamente as relações afetivas.
Favorece o diálogo, a empatia e a reconexão emocional.
Terapia Somática
Trabalha o impacto das memórias traumáticas no corpo, auxiliando na regulação emocional.
O papel da psicoterapia no fortalecimento emocional
O tratamento não apenas reduz sintomas, mas também fortalece recursos internos, como:
Autoconhecimento.
Habilidade para estabelecer limites.
Capacidade de reconhecer e expressar emoções.
Desenvolvimento de relacionamentos mais equilibrados.
Com o tempo, o paciente aprende a confiar novamente, quebrando padrões prejudiciais e permitindo-se viver conexões mais autênticas.
Importância do apoio social e familiar
Além da terapia, ter uma rede de apoio faz diferença no tratamento. Amigos, familiares e grupos de apoio podem ajudar oferecendo:
Compreensão sem julgamentos.
Estabilidade e previsibilidade.
Incentivo para manter o tratamento psicológico.
O apoio emocional consistente ajuda a reconstruir a confiança nas relações humanas.
Dicas práticas para lidar com o transtorno de apego
Enquanto busca tratamento, algumas atitudes podem ajudar no dia a dia:
Praticar a autoconsciência – Observe seus gatilhos emocionais e reações impulsivas.
Estabelecer limites claros – Não permita comportamentos abusivos ou invasivos.
Manter hábitos de autocuidado – Exercícios físicos, meditação e alimentação saudável contribuem para o equilíbrio emocional.
Evitar relações tóxicas – Reconheça padrões e afaste-se de situações que reforcem inseguranças.
Buscar conhecimento – Ler sobre apego e relacionamentos ajuda a compreender seus próprios padrões.
Quando procurar ajuda profissional?
Se você percebe que suas relações são constantemente marcadas por medo, desconfiança ou dependência excessiva, e isso causa sofrimento significativo, é hora de buscar ajuda. Psicólogos e psiquiatras podem fazer a avaliação adequada e indicar o tratamento mais eficaz.
Conclusão
O transtorno de apego é uma condição séria, mas tratável. Embora tenha raízes na infância, ele não define quem você é nem condena suas relações para sempre. Com a psicoterapia, é possível ressignificar experiências passadas e desenvolver relacionamentos mais seguros e saudáveis.
Buscar ajuda é um ato de coragem e o primeiro passo para quebrar ciclos prejudiciais e construir conexões mais autênticas.
Leia também:
👉 Dependência emocional: o que é, como surge e como tratar
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Link de saída:
🔗 CFP – Conselho Federal de Psicologia: Apego e Desenvolvimento Emocional
