Por que mesmo amando a gente briga tanto?
É comum ouvir casais dizendo: “A gente se ama, mas vive brigando.”
E, embora soe contraditório, a verdade é que o amor não impede os conflitos — ele apenas muda a forma como lidamos com eles. Amar não significa estar imune a frustrações, diferenças ou tensões emocionais.
Segundo a psicologia, brigar, às vezes, é um sinal de vínculo emocional, mas a maneira como o casal enfrenta essas brigas é o que define se o relacionamento vai se fortalecer ou se desgastar.
1. O amor não anula as diferenças
Quando duas pessoas se unem, trazem consigo histórias, crenças, valores e modos distintos de expressar emoções. No começo da relação, essas diferenças ficam encobertas pela paixão e pela idealização. Mas, com o tempo, elas aparecem — e é nesse momento que surgem as primeiras discordâncias.
A psicologia chama isso de fase de desidealização, quando o casal começa a enxergar o outro de forma mais realista. Essa etapa é natural, mas exige maturidade emocional para aceitar que amar alguém não significa pensar igual em tudo.
2. Brigas como tentativa de conexão
Muitas vezes, as brigas não são sobre o motivo aparente — como o horário, o celular ou a louça na pia —, mas sim sobre necessidades emocionais não atendidas.
Um dos parceiros pode estar pedindo, por trás da irritação, algo como:
“Me ouça.”
“Me valorize.”
“Me dê atenção.”
John Gottman, um dos maiores estudiosos dos relacionamentos, diz que até as discussões são tentativas de contato emocional. O problema é quando essas tentativas são feitas de forma agressiva, defensiva ou silenciosa.
3. Feridas emocionais e padrões aprendidos
Cada pessoa aprende desde cedo como lidar com frustração, raiva e rejeição.
Quem cresceu em um ambiente onde o amor vinha junto com gritos ou controle pode, sem perceber, repetir esses padrões na vida adulta.
A terapia ajuda o casal a identificar essas crenças centrais e reações automáticas, substituindo-as por formas mais saudáveis de comunicação e vínculo.
4. Quando a ansiedade se mistura com o amor
A ansiedade de apego é outro fator comum por trás das brigas frequentes.
Pessoas com medo de rejeição podem se tornar mais críticas, ciumentas ou exigentes. Outras, com medo de se magoar, se fecham e se afastam.
Esses dois estilos acabam se chocando: um tenta se aproximar, o outro se defende — e o resultado é o conflito.
Reconhecer esse ciclo é essencial para quebrá-lo.
5. Comunicação: o verdadeiro campo de batalha
O que destrói relacionamentos não é o conflito, mas a forma como ele é comunicado.
Casais que aprendem a expressar emoções de maneira assertiva, sem agressividade, criam pontes em vez de muros.
A psicologia sugere técnicas como:
Falar sobre sentimentos, não sobre culpas;
Usar o “eu sinto” no lugar do “você sempre…”;
Escutar sem interromper;
Fazer pausas antes de discutir assuntos delicados.
Pequenas mudanças assim reduzem drasticamente o número e a intensidade das brigas.
6. O papel da terapia de casal
A terapia de casal é um espaço neutro e seguro, onde o psicólogo ajuda os parceiros a identificar padrões de comportamento, desenvolver empatia e fortalecer o vínculo afetivo.
O objetivo não é eliminar todas as discussões — isso seria impossível —, mas transformar os conflitos em oportunidades de crescimento mútuo.
7. Amar também é aprender a discordar com respeito
Amar alguém é um processo contínuo de aprendizado.
Mesmo nos dias difíceis, é possível lembrar que a pessoa ao seu lado não é o inimigo, e sim o companheiro que compartilha o mesmo desejo: ser amado, compreendido e respeitado.
Conflitos bem resolvidos fortalecem o relacionamento, aumentam a intimidade e mostram que o amor é mais forte do que o orgulho.
Considerações finais
Brigar não significa que o amor acabou. Significa que há emoções intensas, necessidades não compreendidas e histórias se encontrando.
Quando o casal aprende a escutar com empatia, reconhecer suas diferenças e pedir o que precisa sem ferir o outro, o amor amadurece — e o relacionamento se torna mais leve, autêntico e duradouro.
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🔗 Fonte de apoio: Gottman Institute – The Four Horsemen: Criticism, Contempt, Defensiveness &
